Pouco depois do fim da chuva, o sol já começou a surgir. Como um soldado entrincheirado, eu esperava protegido pela marquise de uma loja. No céu, o vento forçava o exército de nuvens a se retirar.
Olhando em volta, avistei outros sobreviventes saindo de seus abrigos. Alguns totalmente secos, assim como eu. Outros com manchas molhadas nas roupas, que causavam calafrios ao encostar no corpo.
Todos pareciam abatidos, mas felizes. Como se a chuva fosse um mal passado, vencido. Eu estava entre esses ingênuos, sem imaginar o plano que havia sido posto em prática.
Acontece que uma parte da água do ataque não escoou pelos bueiros, como esperado. Não estou falando das poças, ou das calhas ainda molhadas. Estou falando das minas urbanas.
Elas são formadas pela água que escorre para debaixo das pedras soltas nas calçadas. Lá, em conjunto com a terra, formam uma lama marrom, fétida e traiçoeira, que fica por lá, te esperando.
Camufladas entre o calçamento, a única forma de descobrir uma mina é pisando nela. Exatamente o que fiz nesse dia.
Ao pisar em uma pedra quadrada, daquelas grandes e lisas, senti o mecanismo acionar. Percebi com horror a lama que subia pelos vãos da calçada, cercando a minha perna e se agarrando a minha calça.
Levado pelo susto, xinguei em voz alta. As pessoas em volta me olharam, vendo alguém derrotado, com a perna suja até o joelho.
Um menino veio em meu socorro, mas a mãe o segurou. Todos me olhavam com solidariedade, cúmplices na minha dor, mas não podiam fazer nada. Afinal, essa é a estratégia das minas: ferir alguém para atingir aqueles que forem em seu auxílio.
Espero que não cometa o mesmo erro que eu. Que não tenha que voltar para casa aturdido, humilhado e sem ter coragem de tirar os olhos do chão.
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Há 4 semanas
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