quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O Primeiro Filho.

Pedro saiu da sala de parto vibrando, dava socos no ar e gritava de alegria. Sua namorada havia dado a luz a um menino. Todos se surpreenderam pela sua reação, diferente da tristeza que acompanhava a gravidez precoce. Ele, que mal falava no último mês, parecia não se conter com tantas palavras e frases se espremendo entre os lábios.

O pai levantou-se de um pulo, esperando pelo abraço que não veio. A mãe fez a mesma coisa, mas também ficou com os braços pendendo no ar. Pedro foi na direção de seu amigo de infância, Toshiro. Abraçou-o com lágrimas nos olhos e, gaguejando de felicidade, disse:

- Obrigado, Toshiro! Muito, muito obrigado!

Abriu o abraço e, ainda com as mãos nos ombros do amigo, continuou:

- O bebê é japonês!

Soltou o companheiro e, rindo, correu para casa se arrumar para a festa que iria à noite. Solteiro.

sábado, 11 de setembro de 2010

Escritor Maldito 2.0

Começa o dia acordado por um celular imitando um telefone velho. Joga uma água no rosto, que vale por um banho rápido. Come um pedaço de pão, toma um gole de água e resolve trabalhar.

Liga o computador. Pirateia a wireless do cybercafé embaixo de seu prédio. Acessa seu blog e vê que a quantidade de cliques são as mesmas de sempre. Apenas os dele. Clica no banner da Loja China logo em cima, com medo de perder seu único mecenas.

Abre um doc em branco e começa a escrever. As teclas descem e sobem enquanto o relógio no canto da tela segue indiferente. Depois de algumas horas, se depara com o asdasdasd formado pelo tamborilar dos seus dedos no teclado.

Buscando inspiração, resolve rever a sua musa. Acessa o Orkut e deixa seus olhos passearem pelas fotos desbloqueadas. O sol sobe o oeste, e ele percebe que tem que voltar ao trabalho. Maximiza o doc que, sem notar, volta a preencher com asdasd.

Depois do almoço, começa a busca por referências. Abre um pdf da Divina Comédia, que lê até a luz da tela cansar os olhos. Volta ao doc sem cor, com uma pequena ideia do que escrever. Fita o teclado para descansar os olhos, e para manter os dedos longes das teclas A, S e D.

O sol começa a deitar. Suas palavras começam a faltar, e ele para antes mesmo de preencher uma página. Lê o que escreveu, não gosta, e fecha sem salvar. Visualizando a si mesmo rasgando um pobre manuscrito.

Irritado, resolve sair para encher a cara. Veste uma jaqueta surrada. Vasculha sua carteira e sai de casa com um cartão nas mãos. Mesmo sabendo que não vai conseguir pagar qualquer conta de bar com ele.