quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Feliz 2009

Faltam dois minutos para a meia noite e, enquanto os pais bebem com o resto da família, uma menina de 16 anos olha ansiosa para o relógio em cima da lareira. O fogo crepita enquanto ela não ousa desviar o olhar dos ponteiros. Aperta um pedaço de papel na mão direita e passa os dedos pela taça na esquerda.

Seu pai entra na sala, levemente bêbado, faz alguma graça, da qual ela ri falsamente e sem prestar atenção. O pai sai, resmungando alguma coisa. Ela ouve a mãe a chamando para o jardim, junto de toda a família, mas esse convite não recebe resposta.

Apenas 1 minuto para a meia noite.

Ela ouve os risos que vem de fora, mas prefere ficar ali, diante da lareira, para fazer tudo certo dessa vez. Relembra mentalmente a sua última hora, pensando, pela décima vez, se não havia esquecido nada. Vestia apenas roupa branca, anotou os seus sete pedidos em um papel e colocou as doze uvas em uma taça que encheu de champanhe. Ouve a chamarem de novo, mas nem mesmo o seu olhar se move.

30 segundos.

Um primo mais novo vem à porta, faz alguma piada chamando-a de esquisita, e vai embora. Ela apenas sorri. “Inocente”, pensa. Ela já havia errado duas vezes esse ritual, e passara os últimos dois anos vivendo um inferno por causa disso.

10 segundos.

Lá fora toda a família começa a fazer a contagem regressiva, enquanto ela apenas olha para o fino ponteiro passando pelos segundos. “Estão atrasados”, constata ao ver o ponteiro e acompanhar a contagem de fora. Aperta ainda mais o papel na sua mão, sentindo ele rasgar. Assusta-se, e fica imaginando em cima de qual pedido o rasgo havia sido feito, mas já era tarde para ver.

5 segundos.

Ela fecha os olhos e conta os últimos segundos mentalmente. Eles se passam e ela joga o papel no fogo. Bebe a taça de champanhe com um gole e come todas as uvas, inteiras. Quando acaba, ouve a família, atrasada, comemorando o novo ano. Abre os olhos e, olhando para baixo, vê uma das uvas caída no chão.

Seu pai entra, rindo, desejando feliz ano novo. Mas encontra a sala vazia, enquanto a sua filha corre para o próprio quarto, gritando que só saí de lá em 2010.

2 comentários:

  1. Ah que trágico, pobre menina, por causa de uma uva.
    Destino fadado pela merdinha de uma uva.Sei como é...

    Curti o texto baconzito.

    beijos garoto
    saudades
    :*

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  2. Uma uva a menos, seguindo uma lógica aleatória na qual ela confia muito, só pode significar em tragédia a mais. Eu não sairia do quarto MESMO.

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