segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Suco de Laranja

Desde que era pequeno se acostumou a acordar com o cheiro de suco de laranja pela manhã. Sua mãe fazia todos os dias, com laranjas fresquinhas, que ele bebia assistindo aos pais tomando café.

Mas, com o movimento feminista, a sua mãe decidiu trabalhar. Então já não havia mais tempo para fazer o suco, que deu lugar a um café amargo feito às pressas. "Que saudades do suco de laranja, que saudades dos gominhos", pensava.

Cresceu, mas sempre sentiu falta do cheiro do suco, que marcou a sua infância. Até tentava fazer suco natural, mas o tempo, e a sua falta de mão para colocar o açúcar, deixavam-no incapacitado.

Adulto, passou a tomar os sucos de pacotinho, lata, caixinha, o que fosse. Sempre que tomava os sucos artificiais tentava imaginar os gomos. "Ah, que saudade dos gominhos".

Conheceu, apaixonou-se e até casou com uma mulher. Sem imaginar que era por causa do perfume cítrico que ela usava.

Certo Sábado, sentou-se à mesa, e viu um copo cheio de suco de laranja. Tomou dois goles, e para a sua surpresa, sentiu os gominhos descendo pela garganta. Com um sorriso perguntou à sua mulher se tinha feito suco natural. "Não, é um suco novo que comprei, reparou nos gominhos?". Falando isso, colocou uma caixinha sobre a mesa.

O homem encarou a caixa, baixou os olhos para o copo. "Até vocês gominhos?". E a sua mulher não entendeu nada quando ele começou a chorar.

domingo, 23 de novembro de 2008

Piada Interna

Mesmo já tendo dado aula antes, aquele dia parecia o seu primeiro dia de trabalho. Na realidade, toda vez que começava uma turma nova era assim.

Faltavam dez minutos para começar a aula. No banheiro, ele ensaiou uma apresentação em frente ao espelho, jogou uma água no rosto, e arrumou os poucos cabelos. Pigarreou de leve e considerou-se pronto.

No caminho entre o banheiro e a sala de aula pôs-se a pensar. “Será que eles vão gostar de mim?”, se perguntou. Sempre pensava isso antes de começar uma nova turma, era um homem inseguro. Mas lembrou que seus alunos anteriores gostaram dele, e sentiu-se melhor.

Já na porta da sala esperou todos entrarem. Tantos rostos desconhecidos. Seu nervosismo aumentou.

Os alunos já estavam em seus lugares quando ele entrou. Estava suando um pouco. Endireitou os óculos sobre o nariz. Espiou alguns rostos. “É agora”, pensou.

Boa tarde a todos, eu sou o professor Ronny Klayton”. Droga, começou mal.


Nota: Troque o nome do professor para algum da sua não preferência.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Noite de Sábado

Já passa das 9 da noite, ele continua a andar pela rua a procura de alguém. Prometeu para si mesmo que essa noite não dorme sozinho, e se esforça para isso.

Entra em uma avenida, cheia de barzinhos, e caminha pela calçada. Muitas mulheres olham para ele, mas reconhece quando não querem nada além de uma passada de mão.

Olha discretamente para o outro lado da rua e, em frente a uma vitrine, avista a sua presa. "Adoro as castanhas", pensa. Atravessa a rua sem problemas. Afinal, o congestionamento é tanto, que os carros estão parados.

Chega ao outro lado e pára frente a ela. Que o olha de cima a baixo passando a língua nos lábios, sensualmente. "Ela cheira a sexo", pensa. Dá a volta devagar e a abraça por trás. Ela reclama um pouco, mas logo pára.

Ele não se controla, vai além do que os bons costumes deixam, ali mesmo, na rua. Parece esquecer os bares lotados na outra calçada e dos carros na rua. Mas não esqueceu, é assim que ele gosta, é assim que se satisfaz. Depravado.

Passa um casal pela calçada e olha. A mulher fica enojada, o homem acha engraçado.
Que olhem, que olhem".

Ela geme alto. Ele acaba o que queria. Olha em volta e vê algumas pessoas observando. Uma criança aponta de dentro de um carro, rindo.

Ai, ai. Como é bom ser cachorro", pensa.

Começou

Já passou da meia noite e ele continua na frente do computador. “É apenas um blog”, ele pensa. Não entende para que tanta dificuldade. O nome, em primeiro lugar, já deu trabalho. E agora, o primeiro post, parece não sair.

Sua única companhia é o som de um carro lá fora. Ele toma um gole de água para agüentar acordado, preferiria Coca, mas faz um mês que parou com os refrigerantes. Volta a baixar a cabeça, e pensa em que escrever.

Tantas histórias na cabeça, mas não sabe qual contar. Quer que a primeira seja diferente. Pensa em momentos reais, inventados, mas nada parece servir.

Droga”, pensa. Levanta a cabeça, olha novamente para o relógio. Já está tarde. Uma moto passa lá fora, quebrando o silêncio da noite.

A lista de reprodução termina. Acabou a música, o som dos carros, a água do copo. Ele jura não levantar pegar água antes de acabar esse texto. Um bocejo vem fazer companhia.

Devagar fecha os olhos, mas abre de volta, rapidamente. Seus dedos finalmente batem no teclado. “Já passou da meia noite”, digita. Um sorriso aparece em seu rosto.

Agora ficou fácil”, pensa. Volta a digitar, animado.