Ele não saberia dizer quando a ausência de movimento havia chegado. Ou se era ele que teria chegado até ela.
Imitando a movimentação na estrada, os impulsos de seus neurônios pareciam seguir um ritmo lento, demorando a virar cada esquina de pensamento e parando nos semáforos de atenção.
Quando conseguia velocidade em alguma linha de raciocínio, logo era tirado dela. Às vezes eram os amigos ao lado, no banco de trás. Em outras, era o motorista ou a moça sentada no banco do passageiro.
Perdido entre os carros do congestionamento, havia outro, verde, também cheio de conhecidos. Todos iam à mesma festa, que parecia ter mudado para dentro dos próprios carros. Onde todos eram levados mais pela embriaguez do que pela estrada.
Iam sem pressa, como se a cada dois metros houvesse alguma atração turística para se apreciar. Mas nada mudava ao passar, até mesmo os carros das outras faixas pareciam ser sempre os mesmos, andando todos na mesma velocidade. Inclusive, um ônibus que seguia o mesmo ritmo dos carros, com muitas paradas entre cada parada.
Enquanto os motoristas apuravam os sentidos para mudar a marcha, alternando os pés entre o acelerador, a embreagem e o freio, os passageiros alternavam os copos de mãos e as conversas de assuntos.
Igual aos carros, que andavam cada vez menos, os pensamentos dele também pareciam frear. E foi com essa calmaria, em meio a um caos de buzinas e gritos, que a meia noite passou. E ele ainda não havia pensado nisso.
Não havia pensado em vinte anos de história que acabava de completar. Não tinha conseguido filosofar sobre a vida, como fazia todo ano. Sobre onde estava e onde queria chegar. Isso como pessoa, claro, e não fisicamente.
Meia noite e um. Todas as perguntas que o atormentavam anualmente estavam fora de sua cabeça. Lá, havia apenas espaço para conversas, risadas e algumas buzinas. Uma delas, inclusive, vindo do carro em que estava, para comemorar o seu aniversário. Um dos amigos no banco de trás havia lembrado.
Foi assim que encarou os seus vinte anos: parado.
Sabia que era melhor assim, poupando-se das perguntas que vinham acelerar o ritmo dos seus neurônios todos os anos. Neurônios estes, alias, que preferiam que ele continuasse parado. Mais tarde, mal conseguia andar, só não sabia se era efeito do álcool ou do congestionamento. Preferia não saber.
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