sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Feliz Natal

Já era quase Natal, as pessoas iam para suas casas, para suas famílias, para suas festas. Mas, para ela, era um pouco diferente.

Dentre todas as pessoas no mundo, ninguém imaginaria que ela, logo ela, passaria o Natal sozinha. Sem uma pessoa para brindar, ou algum presente para receber.

Pegou-se pensando se esse ano seria diferente. Se uma visita, qualquer que seja, apareceria em sua casa. Mas sabia que isso não aconteceria. Que era tolice alimentar esperanças.

Em sua casa, estendeu-se no sofá e ligou o som com a música no máximo. Assim não precisaria ouvir os barulhos e risos felizes que insistiam em atravessar as paredes e chegar aos seus tímpanos.

Ouviu a porta abrir. Viu seu marido entrar, pegar um chapéu, e sair correndo para o trabalho. Com um “Feliz Natal” dito às pressas no meio de tudo. Suspirou. Ele iria trabalhar na noite de Natal, para variar.

Levantou e caminhou até as bebidas dele. Preparou um copo de whisky com gelo para ela mesma. Voltou para o sofá e ali ficou. Esperando o Natal acabar. Bebendo. Sozinha. Sem ninguém.

Porque não havia nada mais triste no Natal, do que ser a verdadeira Mamãe Noel.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Em uma praça

Ela sentou no mesmo banco que ele, mas ainda mantendo distância.

Ele olhou e sorriu, sem saber que sorria. Com tantos outros bancos vagos, ela sentou logo no mesmo. Mas longe o bastante para não demonstrar arrependimento.

Ela havia errado, havia exagerado, e agora sabia disso. Que havia feito besteira. Mas seu orgulho era demais para pedir desculpas.

Ele notou o arrependimento no olhar dela. Notou os braços que se abraçavam por não saber o que fazer. Notou principalmente o cabelo, que ela tanto cuidava, desarrumado.

Ela levantou os olhos e encontrou os dele em resposta. Abriu a boca, mas a voz nem da garganta saiu.

Ele riu, sem malicia. Moveu um pouco para o lado e passou o braço por cima dos ombros dela.

Ela enfiou o rosto na camisa dele, o abraçou, e chorou.

Eles ficaram ali. Pouco tempo ou muito tempo, eles discordariam. Ele descreveria como minutos. Ela, como horas.

Até que, ainda rindo, ele afastou o abraço dela e se levantou. Tirou a carteira do bolso e caminhou pelo parque. Um pouco envergonhado por dar o braço a torcer.

Ela ganhou. E sabia disso. Limpou as lágrimas e continuou sentada. Comemorando enquando assistia seu pai procurar outro balão para comprar.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Brilho

Não sabia de onde havia vindo. Só sabia que existia. Era uma noite estrelada quando ele saiu do chão e, sem saber o porque, subiu rapidamente aos céus. Algo ardia dentro dele, o impulsionava. Subiu fazendo barulho, brilhando e rindo.

Quando notou, não estava sozinho. Olhou em volta e viu outros iguais a ele. Subindo, brilhando e rindo. Parecia uma competição entre quem ia mais alto, quem brilhava mais, ou quem fazia mais barulho. Todos se divertiam, mesmo sem saber porque estavam ali.

Então observou que muitos já estavam a sua frente, e que, quando chegavam, ao céu brilhavam mais que durante todo o caminho até lá. Mas, logo depois, desapareciam. Então o medo lhe veio. Medo sobre o que acontecia depois do grande brilho, do grande estouro, do grande riso. Depois de desaparecer.

Olhou para baixo e viu o chão, lotado de pessoas assistindo ele subir, com os olhos vidrados. Viu crianças com a boca aberta, agarradas as roupas dos mais velhos. Olhou para cima, e viu outros como ele subir, brilhar e sumir. Então percebeu, que não importava o que havia do outro lado. A subida e o fim inevitáveis, mas também eram tão belos, que valiam a pena.

Por isso fez força e subiu ainta mais alto e mais rápido. Rindo alto e fazendo barulho. Então no seu grande momento. No seu último brilho. Não havia nada além da alegria pela bela subida que havia feito. E, naquela noite, ele se foi sabendo que havia sido o mais belo dos fogos em um céu estrelado.

Recomeço

Não sabia o porquê, mas precisava escrever. Escrever qualquer coisa, com ritmo ou não, com personagens ou não. Já havia dias que escrevia mentalmente. Personagens, cenas e histórias.

Mas não sabia o que fazer, assim deixando elas de lado. Esquecia o nome das personagens e o motivo das histórias. Mas sabia que estavam lá, quietas, esperando pular para as letras e ganhar vida.

Decidiu. Voltaria a escrever. Não porque esperava ganhar algo com isso, mas porque gostava. Ligou o computador. Colocou uma música ao fundo. Sentou e esperou.

Nada veio. Trocou a música uma, duas, dez vezes. De nada adiantou. Xingou e se levantou. Já estava alcançando o controle da TV quando parou. E, com o olhar perdido no nada, refletiu. Refletiu tanto que voltou para o teclado.

Assim recomeçou do mesmo jeito que, um dia, começou.