11:50
Faltam 10 minutos para seu horário de almoço, e Antônio já começa a errar pequenas coisas no trabalho. Na realidade, já faz meia hora que perdeu o foco e só consegue pensar no almoço.
Não porque esteja com fome, muito menos por estar cansado. Mas por um motivo de um metro e setenta, cabelos castanhos, pele clara e um par de olhos castanhos que, para os outros, não tem qualquer graça. Mas para Antônio, a... para Antônio aquele olhar é o paraiso.
12:00
Chega de trabalho para Antônio. Levanta-se, veste o casaco e deixa para trás aquela colméia de cubiculos.
Um sorriso aparece em seu rosto, agora começou a melhor hora do seu dia. A que faz o dia valer a pena, quando anda vinte quadras a mais e não sente qualquer diferença. Quando gasta o dobro do seu vale para vê-la. Quando faz tudo para isso.
No caminho passa frente a uma loja de flores. Pensa se deve comprar um buquê. Afinal de contas, já fazem quatro meses. Não que namorem a quatro meses, não que se conheçam a quatro meses, não que ela sequer saiba que o nome de Antônio é Antônio. Mas, na cabeça dele, é um aniversário.
12:30
Antônio senta-se a mesa e espera ser atendido. Descartou a idéia do buquê no caminho, ficou com medo de assustá-la. Algo incrivelmente esperto, principalmente vindo de Antônio.
O alvo do seu afeto sai da cozinha, com seu usual uniforme amarelo claro e um avental vermelho. Os cabelos castanhos enrolados em um coque, e uma redinha em volta. O coração de Antônio bate mais forte.
Ela anda em sua direção, Antônio sorri e ensaia mentalmente como o pedido do cardápio. Mas ela passa reto e outra garçonete toma seu lugar. Um pouco mais baixa e mais velha, com a metade da beleza e o dobro do peso. Ela para ao lado de Antônio com uma caneta e um bloquinho em mãos.
Antônio diz que vai esperar um pouco. Mas a garçonete, cuja respiração lembra um rinoceronte com asma, não sai do seu lado. Ele desiste, “não é hoje”, pensa. Pede o prato do dia e uma coca-cola.
12:45
Seu almoço chega, e ele começa a comer com calma. Não quer voltar para o trabalho. Além de que, enquanto come, observa o grande amor de sua vida. Como ele queria ao menos saber o nome dela. Mas parece que seu bilhete sugerindo crachás, de dois meses atrás, não surtiu efeito.
13:10
Antônio já comeu um terço do seu almoço, talvez um pouco menos. A comida já está fria, a coca sem gás, mas ele não liga. Está tomando a sua dose diária de bom humor, para aguentar mais um dia, já esperando pelo almoço de amanhã.
Leva o copo à boca para mais um gole e, ao mesmo tempo, ela volta de uma mesa, passando ao seu lado. Ele a encara, ela olha de volta, e seus olhos se encontram. Antônio leva um susto, sua mão vacila e o copo cai, causando uma enchente de refrigerante em sua mesa. Junto com o copo parece que o mundo de Antônio também cai.
Então, talvez por milagre, ou pelas posições dos astros, algo além explicação acontece. A garçonete abre um sorriso e tira um pano de prato do bolso do avental. Puxa a cadeira da frente, abrindo espaço, e começa a limpar a mesa, rindo.
- Você tem que tomar cuidado com copos, eles são perigosos!
Antônio estava atônito, com a boca idiotamente aberta. Ela era tudo o que ele não era: linda, simpática e divertida. Devia ser inteligente também. Antônio não fala nada. E, com muito trabalho, dá uma risada sem graça. A garçonete ri dele, sem maldade, quase que carinhosamente.
- Prazer, meu nome é Michele. E o seu?
Antônio quase perde a fala. É o seu momento. E pensar que já estava perdendo as esperanças. Agora é só falar seu nome, tão fácil. Mas como um nome tão comum como Antônia poderia combinar com Michele ele não conseguia imaginar.
Ele abre a boca, mas sente sua voz falhar. Iria gaguejar, tinha certeza disso, sempre gagueja quando fala com mulheres. Fecha a boca e olha para Michele. Seus olhos piscam sem parar. Sua boca fica seca. Sua testa começa a suar e uma contração começa do lado direito da boca. Droga, seu tique nervoso queria se mostrar.
Enquanto isso Michele apenas olha para Antônio, esperando resposta. Mas ele apenas baixa a cabeça. Abre a carteira. Deixa uma nota sobre a mesa. Levanta-se, e vai embora sem falar nada.
15:42
Todos se assustam quando, sem motivo, Antônio começa a falar o próprio nome.
A batalha dos Deuses – O jogo
Há 4 semanas
Para Antônio: ser sonhador é bonitinho, mas é sofredor.
ResponderExcluirPôrra, Antônio, ficar idealizando só leva à destruição e à ruína - e algumas vezes, há algum tipo de demência paranóica.
Não se inviabiliza, cara.
Um abraço, um beijo, um queijo e um dólar,
Vicke!