Sem dúvidas, aquele era um péssimo dia para ele. Não que os outros fossem bons, mas aquele estava incrivelmente ruim. Quando se é guarda auxiliar de uma faculdade, aos 58 anos, a vida não parece tão agradável. Principalmente com a sua mulher gritando no seu ouvido e a sua filha grávida sem saber quem é o pai. Definitivamente: que dia horrível.
Era dia de matrícula na faculdade. Os calouros chegavam com as suas famílias. Documentos em mãos, caminhando de um lado para o outro. Conversando e sorrindo. E o velho nada podia fazer além de encarar toda aquela felicidade. Controlando a sua vontade de vomitar. “Que dia nojento”, pensou.
Tomou um tempo de folga e foi para fora. Acendeu um cigarro e se pôs a fumar. Viu mais uma família feliz subir as escadas e sentiu vontade de cometer um crime. Invejava toda a felicidade a sua volta. Soltou a ponta do cigarro no chão. Apagou-a com o pé direito e voltou para dentro.
No dia ele era o responsável pela entrada de um corredor, onde aconteciam as matrículas de alguns cursos. Era dia de lista de espera, o que tornava as pessoas ainda mais insuportavelmente felizes.
Chegou à sua porta e viu todos aqueles jovens esperando. Abriu as portas do corredor e deixou todos aqueles alunos sorridentes entrarem. Com os seus agradecimentos por ele abrir a porta, insuportáveis. Olhou para baixo, tentando não ficar ainda mais nervoso. Quando entrou o último aluno, ele encostou as portas. Apoiou as costas na parede e ficou fitando o nada.
Então chegou um último aluno. Subiu as escadas correndo e pediu para o guarda abrir as portas. Mas o velho apenas barrou a sua passagem. Olhou no relógio. Viu um atraso de 3 min. E um sorriso sádico apareceu em seus lábios.
“Sinto muito”, falou. Deu de ombros e assistiu o ex-futuro calouro se afastar cabisbaixo. “Até que o dia não está tão ruim”, pensou ele, sem nem mesmo imaginar que estava salvando uma vida. Ou algo muito próximo disso.
P.S.: Essa é uma história real que eu mesmo inventei.
A batalha dos Deuses – O jogo
Há 4 semanas
Fazendo a alegria da segunda chamada since 1912.
ResponderExcluirConheço o "ex-futuro calouro". É alguém que demonstrou desde cedo que não precisa de ninguém para lhe indicar o caminho. Ele tem seus gostos e suas preferências, e de forma muito, mas muito imperceptível mesmo, sabe negar-se a seguir o caminho que lhe indicam. E trilha o caminho que ele mesmo elege para a sua vida.
ResponderExcluirEsse "ex-futuro calouro" de direito dá muito orgulho a seu pai e todos os seus.
Fico grato por você ser como é.
Babo sim, e daí?
Vai fazer falta esse ex-futuro calouro. Nos vemos por lá daqui um tempo, ou algo muito próximo disso. hehehe
ResponderExcluirAbraço!
Eu achei tão lindo a mensagem do Celso Alves Pai para o Celso Alves Filho.
ResponderExcluir***
E por um momento eu tive uma pontinha de inveja: se o guardinha não tivesse tido o dia mais feliz da sua vida, o dia que "ela" resolveu dar "uma resolvida" e portanto, estivesse distribuindo um sorriso gigante no dia da matrícula, deixando eu entrar tranqüilamente (trema: amor verdadeiro, amor eterno!) mesmo um minutinho depois, praticamente junto com os calouros do outro curso, eu não estaria 2 meses depois chorando por ter feito a pior escolha da minha vida e não estaria estudando hoje para um curso de vestibular aleatório.
***
Boa sorte ex-futuro calouro de direito! (Direito? Ainda bem que você seguiu seu sonho).
Realmente, aquele guardinha foi o mais parça!
ResponderExcluirE hoje você é orgulho:D
beijos
Ducaralho!
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