Raramente se viam e já não se falavam mais pelo telefone. Não que fossem separados por uma grande distancia, moravam na mesma cidade, relativamente perto.
Eram separados por uma cadeia de acasos, com desculpas nascidas da própria rotina. Pelo menos era isso que ela falava, e era nisso que ele acreditava.
No tempo que ficaram sem se ver, o que ele sentia por ela foi pouco a pouco transferido para uma tela no canto do seu monitor. Uma tela branca e azul, pela qual conversavam.
Passou por tardes nubladas, noites demoradas e até sábados de sol com os olhos abertos apenas em função daquela tela. Até mesmo as mensagens sem sentido eram responsáveis pelo sentido do seu dia.
Aos poucos, o que mais gostava nela foi substituído. O brilho dos cabelos deu lugar à luz do monitor. A cor dos olhos cedeu aos pixels coloridos. E até mesmo os suspiros, os quais tanto gostava, viraram consoantes sem significado. O que sentia foi diminuindo pouco a pouco, até não ser maior que a tela.
Se relacionou tanto com aquele código binário que, ao ver a pessoa por trás da tela branca e azul, já não sentia a mesma coisa. Sua voz não o encantava, seus olhos não tinham o mesmo brilho e a sua presença não cativava.
Conversaram casualmente, estranhamente. Evitavam os olhos um do outro. Ele, procurando o encanto que já não pertencia aquele mundo. Ela, não se sabe.
Ele sabia que, depois desse encontro, a tela no canto do seu monitor havia perdido o brilho, a graça. A verdade por trás da tela branca e azul havia matado a tela branca e azul.
A batalha dos Deuses – O jogo
Há 4 semanas