Ele lembrará desse dia pelo resto da vida. Aos nove anos. Parado na frente de casa. Com uma bola embaixo do braço e limpando o nariz com a manga da camisa. Olhando o fim da rua. Vendo seu pai ficar cada vez mais distante.
Há quadras de distância o pai olha para trás. O menino ajeita os cabelos, encabulado. Não entende porque se sente daquele jeito. Seu pai está apenas indo comprar cigarro. Mas alguma coisa no seu olhar, na sua fala. Alguma coisa fez com que tudo aquilo fosse estranho.
Talvez tenha sido pela briga que seus pais tiveram no dia anterior. Talvez seja porque sua mãe tenha chorado o dia inteiro, trancada no quarto. O que quer que seja, algo estava errado.
Seu pai estava diferente. Saiu de casa diferente, andou até ele e o abraçou de forma diferente. Passou a mão bagunçando o seu cabelo, e sorriu um sorriso desconhecido. Alguma coisa naquele momento estava errada. Fora do lugar.
Agora ele já não consegue ver o próprio pai, tão longe que está. E ele fica ali, parado, pensando. Repassando toda a sua manhã, imaginando o que havia de tão estranho. O que havia o deixado daquele jeito.
A boca do menino se abre. Ele solta a bola e corre atrás do pai. Lágrimas enchem os seus olhos. Tremores percorrem os seus ossos. A dúvida já não existe mais.
Seu pai está indo embora, para nunca mais voltar. Ele tem certeza disso. Não entende como pode esquecer algo tão óbvio. Seu pai não fuma.
A batalha dos Deuses – O jogo
Há 4 semanas